Cinema São Jorge

O Outsiders – Ciclo de Cinema Independente Americano regressa ao Cinema São Jorge, em Lisboa, de 30 de abril a 5 de maio, com uma seleção de 12 filmes de realizadores independentes nunca apresentados em Portugal e com um relevante percurso nos mais prestigiados festivais de cinema do mundo. 

Desencantado com a vida de aposentado, Mitch, um exuberante ex-cirurgião, convence o relutante Colin, seu ex-cunhado, a passar férias na Islândia. Entre bares de gelo, estâncias termais em voga e aventuras culinárias, os dois velhos amigos divertem-se na simples tranquilidade da companhia um do outro. Aaron Katz e Martha Stephens, duas das vozes mais singulares do cinema independente americano, conseguem a rara proeza de revisitar o popular, embora difícil, género da buddy-comedy com humor e inteligência, dando-lhe umas pinceladas de diário de viagem.

O frágil equilíbrio da vida que Lila construiu na sua casa nas montanhas de Catskill com Edgar, o marido, e as filhas adolescentes é abalado quando Edgar revela o nascimento de um filho com outra mulher. Segue-se um verão de emoções à flor da pele e reconfigurações afetivas. Lila tenta reagir explorando os cantos luminosos e obscuros da dor, da raiva e do desejo, nomeadamente através da sua amizade com um homem mais jovem. Hilary Brougher articula as peças deste puzzle familiar turbulento com surpreendente simplicidade, realizando um filme terno, inteligente e adulto.

Pier Kids (literalmente, “os miúdos do molhe”) questiona o significado de comunidade entre jovens LGBT negros em situação de risco. O filme é composto por uma galeria de personagens — entre elas, Casper, um jovem sem abrigo atraído por transsexuais; Desean, que se interroga com crueza sobre qual a melhor alternativa para escapar à condição de sem abrigo; Krystal, frequentadora das pistas de dança como uma forma de sobrevivência — cujos traços comuns se prendem com o afastamento (por vezes, expulsão) das famílias de sangue e o refúgio em comunidades familiares de substituição. Elegance Bratton acompanha esses jovens ao longo de cinco anos, procurando entender o que significa ser negro e queer 50 anos depois de Stonewall.

O filme acompanha a vida de Jesse Damrosch, desde o nascimento em 1987 até à entrada na faculdade aos vinte anos. Alguns dramas familiares, como a morte do tio, de complicações decorrentes da sida, o seu tenso relacionamento com o pai ou a hostilidade aberta entre a mãe e a tia, incapazes de se reconciliarem mesmo durante o funeral da avó materna, são pontuados por acontecimentos históricos como o atentado bombista ao World Trade Center em Nova Iorque em 1993 ou a presidência de George W. Bush no início dos anos 2000. Ricky D’Ambrose afasta-se deliberadamente da narrativa tradicional, preferindo explorar sem romantismo as memórias pessoais através de uma colagem de quadros laboriosamente compostos.

Os Ryries sofreram uma perda: a morte de um bebé algumas horas após seu nascimento. À medida que os membros da família, sem palavras para expressar a tristeza, se entregam à solidão do luto, uma visita inesperada leva-os a estar cada vez mais atentos, com humor, aos problemas que fazem parte de qualquer vida humana, mas que também carregam dentro de si o poder de nos unir. Patrick Wang demonstra, tal como em In the Family, a sua obra de estreia, exibida na primeira edição do Outsiders, uma extraordinária capacidade de empatia com as suas personagens e a sua habilidade para abordar, sem sentimentalismo, a tragédia familiar.

Na sequência da morte da irmã, Kathy viaja com Cody, o filho de oito anos, tímido e introvertido, a fim de pôr ordem na casa que herdou e que tenciona vender. À medida que Kathy se vai dando conta do pouco que sabia sobre a irmã, de quem há muito se havia afastado, Cody desenvolve uma amizade improvável com Del (Brian Dennehy, num dos seus últimos papéis), um veterano da Guerra da Coreia e viúvo que mora na casa ao lado. Com a ajuda de interpretações notáveis, Driveways é um milagre de subtileza, um filme sobre a solidão e a diferença, e a fé comovente no bálsamo que a bondade pode constituir para qualquer dor.

A Drª Rose Casper, uma patologista forense com ideias muito próprias sobre a reprodução biológica feminina, vive obcecada com a descoberta de uma forma de trazer os mortos de volta à vida. O seu mundo colide com o de Celie Morales, enfermeira da maternidade do mesmo hospital onde trabalha, quando a filha desta morre subitamente de um ataque agudo de meningite e o seu corpo vai parar à mesa de autópsia de Rose. As circunstâncias da morte da menina fazem dela o candidato humano perfeito para a sua próxima experiência. A realizadora Laura Moss retrabalha, de forma inédita e engenhosa, um dos temas mais antigos do cinema de terror, o mito de Frankenstein.

Após 40 anos a gerir o centro cultural que fundaram numa antiga fábrica de pão, Dorothea e Greta vêem-se forçadas a lutar pela sobrevivência quando um casal de artistas performativos chineses se instala em Checkford, recorrendo a métodos mais vistosos para captar as atenções. No meio da agitação trazida à pequena comunidade, as duas animadoras culturais tentam prosseguir o trabalho, ensaiando uma produção da Hécuba de Eurípedes. Porém, no dia da estreia recebem a notícia de que The Bread Factory vai perder uma fatia essencial do financiamento. Há que tomar grandes decisões. Trata-se do filme mais ambicioso de Patrick Wang, que recorre de forma brilhante a uma variedade de dispositivos formais, tomados de empréstimo ao teatro e à literatura, para refletir sobre o significado de viver na América contemporânea.

Jess Harris, uma web designer de Brooklyn, não esconde a satisfação com o projeto de ser doadora de óvulos do seu melhor amigo Josh e de Aaron, o marido deste. Um teste pré-natal realizado a doze semanas de gravidez apresenta resultados inesperados que colocam um dilema moral, acabando por pôr à prova o relacionamento entre os três amigos. Jeremy Hersh evita com habilidade algumas das armadilhas em que poderia cair o filme, transformando-o numa das obras recentes mais bem sucedidas sobre a fragilidade da condição humana.